Quem circula pelas ruas da nossa capital não pode deixar de
notar o incremento de pessoas de ambos os sexos deambulando com ar maltrapilho.
Uns com roupas sujas e desgastadas, outros nus. Há até
programas de rádio em que os ouvintes ligam para dizer que “maluco X” ergeu uma
espécie de acampamento em paragem “Y” e lá o radialista faz um apelo às
autoridades, outros preocupados pela diminuição da temperatura ligam pois de
forma inesperada um adulto do sexo masculino tem pernoitado no campo desportivo
sem agasalho condigno.
São os loucos meus senhores, que por razões diversas
perderam a sanidade e preferem viver numa realidade paralela, comendo o que
encontram no lixo, lendo folhas soltas de jornais ou simplesmente ficando
prostrados em algum sítio olhando para o vazio.
Aflige-me notar que cada vez mais existem pessoas com
perturbações mentais nas ruas e nós simplesmente fingimos não ver, a não ser
que o dito cujo suba para uma estátua no Largo das Heroínas sem roupa, mas
nessa situação preocupamo-nos em “sacar” dos telemóveis fotografar ou filmar e
por a circular nas redes sociais.
Será que o nosso dia-a-dia cheio de percalços e incidentes
não fará algum de nós seguir tal caminho? Pois a falta de descanso, a má
alimentação e altos níveis de stress podem causar depressões ou até mesmo
colapsos nervosos.
Onde estão as instituições governamentais e a sociedade
civil que parecem indiferentes a um fenómeno que tem vindo a crescer.
Entre leituras descobri que existe uma diferença entre
demência e loucura pois demente é alguém que paulatinamente pode perder
capacidades cognitivas, a exemplo da doença de Alzeihmer, enquanto louco é quem
perde consciência de si no mundo fazendo coisas que fogem a razão.
Curioso que historicamente a forma como lidamos com a
loucura sempre foi uma espécie de negação ou afastamento. No Renascimento estes
indivíduos eram colocados em barcos e deixados à deriva em alto mar, no século
XVII-XVIII são criados os hospitais onde se aprisionam os loucos com o intuito
de os afastar da sociedade com medo de possíveis contágios e só a partir do
século XIX é que a loucura passa a ser vista como doença e estudada.
João Frayze-Pereira, no seu livro “O que é loucura?”, traz
dados de uma pesquisa que fez com os seus alunos de psicologia sobre o que é a
loucura.” A loucura é vista de diversas
formas: como perda da consciência-de-si-no-mundo, como uma doença, como um
distúrbio orgânico ou desequilíbrio emocional que levam a um desvio de comportamento,
como distúrbio emocional cuja origem é o desajustamento social do indivíduo,
como desvio comportamental em relação a uma norma socialmente sancionada, como
estado de alienação da realidade.”
Porém no campo psiquiátrico, internacionalmente, ainda há
muito o que pesquisar e entender já por cá muitos de nós sofremos de
preconceito pois isso de recorrer a um psicólogo ou psiquiatra “são coisas dos
estrangeiros” é pouco abonatório contar os nossos problemas a quem não nos
conhece e nada sabe da nossa vida e vamos andando procurando refúgio no álcool,
no tabaco, nas discotecas ou em drogas pois permitem-nos fugir daquilo que não
queremos enfrentar.
Há algum tempo atrás soube do caso de um jovem que sofreu um
esgotamento nervoso por excesso de trabalho foi levado primeiramente para um
hospital teve uma ligeira melhoria mas logo em seguida nova recaída os seus
familiares decidiram levá-lo para o Papá Kitoco pois os tratamentos
tradicionais resolveriam a situação, foi visitado por amigos, sujo, maltrapilho
acorrentado e não dizendo coisa com coisa…. Fez-me lembrar a forma como a
loucura era tratada nos séculos XVII-XVIII….
Preferimos fingir que não vemos o senhor que circula pela
zona da Rei Katyavala com muitas calças vestidas, a menina com a saia muito
curta e com as cuecas na cabeça, ou a “Mais Velha” que deambula com os panos
sujos e pede 10 kwanzas. A loucura está entre nós e mesmo que os escondamos ou
aprisionemos eles saem à rua mostrando que este é um problema que deve ser
resolvido.
Coucou Beriour,
ResponderEliminarouvi recentemente uma "major rant" sobre este tema na Rádio Mais, no programa da manhã. O Jorge Mangomito Gomes dizia que as pessoas ligavam para lá para dizer onde estava o maluco nu, mas não lhe iam dar agasalho ou de comer.
Não sou hipocrita: se o visse na rua, nao sei se pararia. Ja vi agressoes quando alguem quer ajudar alguem com algum disturbio mental... ENtao nem sei qual seria a verdadeira solucao: equipas medicas especializadas a circular na cidade para acolher estas pessoas e levar para tratamento no hospital psiquiatrico? Beijos *
Olá AElitis sabes eu acho que passa também pela sensibilização pois o elevado consumo de álcool e droga o stress diário a que estamos sujeitos vai desestabilizando as pessoas e por norma elas não recorrem a apoio especializado originando situações extremas, é preciso pôr as população a dialogar exprimir as suas angustias quando as coisas ficam acumuladas dão maus resultados. beijinhos
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