segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Crónica O País de 30/10

 “Kotas”


Comemorou-se no passado dia 1 o Dia Mundial do Idoso, em alusão à data a Academia BAI exibiu uma comédia francesa intitulada “ E Se Vivêssemos Todos Juntos” sobre um grupo de idosos que decide viver em comunidade.
O filme realizado em 2011 aborda a temática do envelhecimento e de como a sociedade os encara, colocando-os em lares de idosos, contratando pessoas para auxilia-los, dando-lhes atestados de impotência e fragilidade. Ao decidirem viver em conjunto fazem-no pela longa amizade que possuem de forma a não deixar desamparado quem sofre de Alzeihmer e tem uma esposa com uma doença em fase terminal ou um fotógrafo “assanhado” que após um AVC é encaminhado pelo filho para um lar de idosos contra a sua vontade.
Não queremos e nem devemos ser desmancha-prazeres por isso não contaremos o fim, este filme dá o mote aquilo que nos preocupa que é a forma como olhamos e tratamos os nossos mais velhos.
Longe vão os tempos em que ter avó e avô em casa era sinónimo de orgulho de mostrar que a família cuidava dos seus patriarcas por serem eles o testemunho da história das diversas gerações.
Quem nunca se deliciou com os lanches em tardes passadas em casa dos avós não sabe o que perdeu, as histórias do tio fulano que sempre tinha sido bangão desde a infância ou os castigos por se ter “assaltado” a mangueira são memórias que ficam e nos acompanham para sempre.
Segundo dados do Ministério da Assistência e Reinserção Social são assistidos em todo o país 226.597 pessoas idosas em situação de vulnerabilidade, sendo 123.761 do sexo feminino e 102.836 do sexo masculino.
Que situação preocupante… estamos a deixá-los desamparados afastando-os do convívio familiar. É verdade que os tempos mudam e com eles as prioridades mas será certo deixar em situação de risco quem ajudou a criar-nos? Quem nunca ouviu histórias de famílias que expulsaram os seus anciões por acreditarem que estes praticavam feitiçaria (mas volta e meia os mais novos como se de uma esquizofrenia colectiva se tratasse justificam determinados actos por consultas a quimbandas e feiticeiros).
Ao todo no nosso país existem dez lares de idosos distribuídos por onze províncias sendo que a província com um maior número de lares é a do Moxico. O Ministério afirma estar a desenvolver acções para defesa desta franja da população em risco, pois os cuidados de saúde para os mais velhos são grosseiramente negligenciados.
O Dia Internacional do Idoso foi instituído pela Organização das Nações Unidas em 1991, com vista a uma reflexão, protecção e promoção dos direitos das pessoas idosas.
Segundo dados da OMS( Organização Mundial de Saúde) até 2025 o número de idosos poderá chegar até a 12000 milhões.
Esquecemo-nos dos nossos costumes ancestrais? Já não valorizamos a experiência de vida? Nesta sociedade que se diz moderna e que vive intensamente existirá lugar para aquilo que é o nosso bem mais precioso? Convém não esquecer que o tempo vai passando e que os jovens de hoje serão os idosos de amanhã será que lidaremos bem com acções que nos infantilizam desvalorizam excluindo-nos da sociedade?
Deixamos à reflexão.